Aula 08 – Quando Buffett vende uma ação (e quando não vende nunca)

Descubra os motivos que levam Warren Buffett a vender uma ação e por que, na maioria dos casos, ele prefere manter seus investimentos por décadas. Nesta aula prática de value investing, entenda os critérios que Buffett usa para avaliar deterioração dos fundamentos, novas oportunidades e a importância da paciência e visão de longo prazo. Aprenda também com os insights de Howard Marks sobre como evitar decisões impulsivas e vender apenas com base em fundamentos reais. Um guia essencial para investidores que querem pensar como Buffett e investir com disciplina.

VALUE INVESTING

Marcos Roberto Pinto

4/3/20253 min read

“O tempo é amigo dos negócios maravilhosos e inimigo dos medíocres.”
– Warren Buffett

Vender uma ação pode ser uma das decisões mais difíceis no mundo dos investimentos. É aqui que o investidor se coloca diante de perguntas incômodas: será que os fundamentos mudaram? Estou sendo impaciente? Ou estou apenas reagindo ao medo do momento?

Para Buffett, vender uma ação é quase uma exceção. Ele não se comporta como um operador que troca ativos frequentemente. Sua mentalidade é a de um sócio de longo prazo, e não a de um apostador tático. Por isso, ele costuma dizer que seu prazo ideal para manter uma ação é “para sempre”.

Mas há, sim, momentos em que ele vende. E entender quando e por quê Buffett decide se desfazer de um ativo é tão importante quanto entender os critérios de compra.

A primeira grande razão para Buffett vender uma ação é a deterioração dos fundamentos. Se o negócio começa a apresentar sinais de enfraquecimento estrutural — perda de vantagem competitiva, queda de margens, mudanças negativas na gestão, uso imprudente de capital — ele reavalia. Buffett permanece fiel ao negócio, mas não à cegueira.

Um exemplo real disso foi o caso da Dexter Shoe Company, adquirida em 1993. Buffett a considerava uma excelente fabricante de calçados americanos, com bom histórico e marca forte. Mas ele subestimou a ameaça da concorrência chinesa, que em poucos anos derrubou a competitividade da empresa. Buffett não só vendeu, como admitiu que foi um dos maiores erros de sua carreira: ele havia pago a aquisição em ações da Berkshire — que hoje valeriam bilhões.

“Quando você percebe que está em um buraco, a primeira coisa a fazer é parar de cavar.”

Buffett também vende quando encontra uma oportunidade visivelmente superior. Isso não significa correr atrás da moda do momento, mas sim realocar capital de forma racional. Se ele possui uma empresa boa, mas identifica outra com mesma qualidade, maior retorno e preço mais atrativo, ele considera a troca.

Essa decisão é pautada por uma filosofia profundamente racional. Buffett trata o capital como algo escasso e valioso — e busca sempre o uso mais eficiente para ele. No fundo, vender uma ação para comprar outra só faz sentido se o retorno ajustado ao risco da nova oportunidade for claramente superior.

Mas o que não faz Buffett vender? Oscilações de preço, más notícias momentâneas, pânico de mercado, pressão externa — nada disso o influencia. Buffett não reage a ruídos, ele responde a fatos concretos e fundamentos.

Um exemplo disso foi durante a crise de 2008. O mercado global estava em colapso. Ações da Coca-Cola, American Express e outras grandes empresas que Buffett possuía caíram fortemente. Muitos investidores venderam desesperados. Buffett fez o contrário: manteve suas posições e ainda comprou mais.

“O mercado é um mecanismo de transferência de dinheiro dos impacientes para os pacientes.”

Essa frase resume o espírito dessa aula. A venda, para Buffett, é uma decisão fundamentada, não emocional. Ele compra empresas como se estivesse comprando a empresa inteira, e não apenas papéis que mudam de preço a cada segundo. Por isso, a paciência é uma vantagem competitiva, e não uma postura passiva.

Buffett frequentemente cita que, se o negócio é excelente e continua gerando retorno sobre o capital, não há motivo para vender. A não ser que os fundamentos se deteriorem ou surja uma empresa ainda melhor, o melhor a fazer é deixar o tempo trabalhar a seu favor.

Howard Marks reforça essa ideia ao dizer que os investidores erram mais por ação do que por inação. A tentação de vender, muitas vezes, nasce do medo ou da ganância — emoções que distorcem o julgamento racional.

“Muitos vendem quando o mercado cai, não porque o negócio piorou, mas porque se sentem desconfortáveis. Isso é um erro clássico.”
– Howard Marks

O desafio do investidor inteligente é saber esperar, saber suportar a pressão e saber reconhecer quando algo realmente mudou. Isso exige não apenas técnica, mas caráter, clareza e convicção.

Por isso, antes de vender uma ação, Buffett se pergunta:

O negócio piorou de forma estrutural?
A gestão mudou e perdeu qualidade?
Há uma alternativa muito melhor e mais barata?
Ou estou apenas reagindo ao medo, à ansiedade ou à pressão do mercado?

Se nenhuma dessas perguntas for respondida com um “sim” sólido, a melhor decisão é simples: não vender.

📚 Leitura recomendada:

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O mais importante para o investidor – Howard Marks
Warren Buffett e a Análise de Balanços – Mary Buffett