Aula 03 – O que torna uma empresa “comprável” para Buffett

Descubra os critérios que tornam uma empresa realmente atrativa para Warren Buffett. Aprenda como identificar negócios simples, com lucros consistentes, boa gestão, baixo endividamento e vantagem competitiva — e por que investir fora do seu círculo de competência pode ser o maior erro do investidor.

VALUE INVESTING

Marcos Roberto Pinto

4/1/20254 min read

Aula 03 – O que torna uma empresa “comprável” para Buffett

Imagine que você tem bilhões de dólares para investir. O que faria? Apostaria em startups promissoras? Em setores da moda como inteligência artificial ou criptomoedas? Ou compraria ações de empresas tradicionais, como uma fabricante de tintas, uma rede de fast food ou uma seguradora?

Se você for Warren Buffett, a resposta é clara: você escolheria negócios simples, previsíveis, com lucros crescentes, boa gestão e dívida sob controle.

Buffett já deixou claro inúmeras vezes: ele não tenta prever o futuro, não aposta em modismos e só compra empresas que entende completamente. Isso é o que ele chama de círculo de competência. E dentro desse círculo, ele procura o que chama de empresas compráveis.

Buffett sempre insistiu que não investe em negócios que não consegue explicar com poucas palavras. Para ele, complexidade é inimiga da clareza — e um terreno fértil para erros.

“Nunca invista em um negócio que você não consegue entender.” – Warren Buffett

Essa abordagem ficou clara em 1999, durante a bolha das empresas de internet. Enquanto o mundo inteiro se empolgava com as “.com”, Buffett se manteve à margem. Ele era constantemente questionado por não investir em tecnologia. Sua resposta era sempre a mesma: não entendo esse modelo de negócio o suficiente para fazer uma avaliação segura.

E ele estava certo. A bolha estourou, bilhões se perderam, e Buffett preservou seu capital — provando que entender o que se está comprando vale mais do que seguir o entusiasmo do mercado.

Um dos investimentos favoritos de Buffett é a See's Candies, uma fabricante de chocolates americana. Negócio simples: faz doces, vende em lojas, tem clientes fiéis e lucros consistentes. Buffett comprou a empresa em 1972 por US$ 25 milhões. Desde então, ela gerou mais de US$ 2 bilhões em lucros para a Berkshire Hathaway, com pouquíssimo capital adicional investido. É o tipo de negócio que Buffett adora: compreensível, com margens altas, marca forte e cliente recorrente.

Buffett não compra apenas empresas. Ele compra pessoas junto com os negócios. A gestão é um dos principais fatores que tornam uma empresa comprável para ele.

“Quando temos uma empresa maravilhosa, com uma equipe de gestão maravilhosa, o melhor a fazer é deixar que eles toquem o negócio.” – Warren Buffett

Ele procura líderes que sejam competentes tecnicamente, honestos, alinhados com os interesses dos acionistas e apaixonados pelo negócio. Um bom exemplo é Tom Murphy, o executivo que comandava a Capital Cities, uma emissora de televisão comprada por Buffett nos anos 80. Ele sempre dizia que Murphy era um dos melhores CEOs que já conheceu — e que o segredo era a disciplina, o foco em resultados e a aversão a desperdícios.

Buffett valoriza gestores que pensam como donos. Pessoas que usam os recursos da empresa como se fossem seus. Ele confia o capital da Berkshire apenas a quem tem essa mentalidade.

Buffett não busca empresas que tenham “um ótimo ano” — ele quer empresas que tenham ótimos 10, 20, 30 anos. E isso só é possível com lucros previsíveis e sustentáveis.

É por isso que ele ama empresas como Coca-Cola, com vendas estáveis, marca forte e margens sólidas; American Express, com receita recorrente e modelo escalável; e Moody’s, empresa de análise de crédito com posição dominante no mercado.

“A previsibilidade dos lucros é mais importante do que o crescimento acelerado. Prefiro ganhar 15% ao ano com segurança do que 25% com incerteza.” – Warren Buffett

Essa visão está muito alinhada com Howard Marks, que alerta sobre os perigos de se basear em projeções otimistas demais.

“Reconhecer o que você sabe — e principalmente o que você não sabe — é a base da boa gestão de risco.” – Howard Marks

Outro ponto essencial: Buffett não gosta de empresas muito endividadas. Para ele, a dívida pode funcionar como uma faca de dois gumes. Em momentos bons, alavanca os resultados. Mas em crises — que sempre virão — a dívida se torna um risco existencial.

Ele prefere empresas que conseguem crescer com capital próprio ou com níveis muito conservadores de endividamento. Isso garante mais liberdade, mais resiliência e menor risco de perda permanente.

Durante a crise de 2008, muitas empresas quebraram ou precisaram de resgate porque estavam altamente alavancadas. Já a Berkshire Hathaway, que sempre manteve seu caixa forte e suas empresas investidas com pouca dívida, não apenas sobreviveu como aproveitou o momento para comprar ativos a preços incríveis, como ações da Goldman Sachs e da General Electric.

Talvez o ensinamento mais importante dessa aula seja este: Buffett só investe no que entende. Ele sabe exatamente o que está dentro do seu círculo de competência — e evita tudo que esteja fora.

“O que importa não é o tamanho do seu círculo de competência, mas sim que você saiba onde estão suas bordas.” – Warren Buffett

Howard Marks complementa:

“É melhor ser aproximadamente certo em algo que você entende do que precisamente errado em algo que você não entende.”

Esse conceito exige humildade. É fácil cair na tentação de investir em algo popular, mas que você não domina. Buffett nos mostra que não precisamos saber tudo — apenas o suficiente, e bem.

Warren Buffett compra empresas que ele entende, que geram lucros de forma previsível, com boas margens, boa gestão, pouca dívida e posição competitiva sólida. Ele não tenta ser esperto — tenta ser disciplinado, racional e paciente.

Evitar o que está fora do seu círculo de competência é tão importante quanto escolher bem o que está dentro. Ao aplicar esses filtros simples, você já estará anos-luz à frente da maioria dos investidores que compram ações apenas por modismo ou hype.

Na próxima aula, vamos entender um conceito fundamental para proteger seu capital e aumentar suas chances de sucesso: a margem de segurança.